Histórico
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A máscara é propriamente o símbolo deste território liminar, poroso, impuro, onde se (re)constrói a identidade cultural de José de Guimarães. Surgindo no imaginário do artista durante a sua estada em Angola, entre meados de 1960 e princípios de 1970, a máscara convoca e representa os espíritos dos antepassados, combinado não raras vezes motivos humanos e animais numa tentativa de unir o homem ao seu ambiente natural. A máscara torna-se um motivo recorrente no trabalho de José de Guimarães, obsessivamente revisitado, a preto e branco ou a cor, desenhando à vista ou em imaginação, como se o ato de fazer fosse um ritual de possessão ou de transformação – o exercício sempre reiterado de fazer-se passar por outro para se reencontrar consigo próprio. Nesta série de pinturas, realizadas no princípio da década de 1970, numa altura em que desenvolvia o seu Alfabeto Africano, o artista cruza duas realidades distantes e aparentemente desconexas, como são a tradição da pintura europeia, com especial incidência na declinação de um imaginário parente da nova figuração, do primitivismo ou da art brut, com a aprendizagem da linguagem da arte popular africana, construindo o espaço da tela em torno da (des)construção da ideia de rosto e de uma experimentação constante ao nível das múltiplas possibilidades de combinação de cores, formas, signos e símbolos.