6 A 15 FEVEREIRO
A urgência luminosa da dança na era da outralidade
O que encontraremos nós de valor cognitivo, nesta nova convocatória anual sobre as matérias do corpo, do gesto e da articulação do imaginário social que é o GUIdance?
Uma ideia especulativa, forte, de que o desenvolvimento do nosso conhecimento próprio, deve cada vez mais considerar, como energia fundamental, a relação de curiosidade e empatia por todo o entorno existencial, gerador de todo e qualquer contexto. Isto é, importa considerar e fomentar todas as possibilidades de interação entre seres humanos, não humanos, matéria inerte e matéria cósmica.
Sentimos que este tempo, que já transcende o conhecimento que dele possamos ter, obriga a reconhecer que a identificação da diferença e da “parte outra” já não é suficiente para resolver os grandes dilemas que nos assaltam e que, assim, colocam dúvidas sobre a nossa própria continuidade enquanto espécie.
Depois de termos proposto, enquanto celebração necessária, a condição de “humanidade" na dança, na edição anterior, decidimos este ano montar um programa que estimula formas de expressão virtuosa, poética, radical, social e política através do compromisso de relação integrada com a “parte outra”, que pode ser humana e mais que humana.
Ainda que possamos identificar uma série de matérias importantes (tradição, mitologia, migrações, padrões sociais, transcendência, etc.) a serem questionadas no sentido de se criar agência, o que ligará concetualmente esta edição é um neologismo: outralidade.
Outralidade é uma ideia básica mas simultaneamente complexa de que já não chega reconhecer o lugar da diferença. É preciso incorporá-la na forma como nos descobrimos a nós mesmos, renovando os significados a partir de um interior que vem da “parte outra”. Sendo essa outralidade constituída por toda a humanidade que nos caracteriza na sua mais imponente diversidade, mas também pelo cosmos (desconhecido) e por todas as forças vivas e inertes alinhadas pela força misteriosa da vida.
O que vamos tentar desencadear é uma contribuição para a expansão do campo sensorial, cuja poesia, o sagrado, a política e a ética não podem ser cumpridas de forma unilateral, enquanto fator exclusivo do ser humano.
Encontraremos em todas as peças, se nos disponibilizarmos, uma razão outra para além da visível, que motiva a expressão imparável dos corpos na produção de significados. E se quisermos encontrar uma primeira âncora a partir de um dos nossos grandes pensadores, aqui a temos:
É na relação com o outro que se forma o “eu”. Projeta-se um feixe de afetos sobre o corpo do outro que os vai unir e individuar, formando a figura de um “eu”. O eu é primeiro o “outro” antes de ser meu (eu).
José Gil in “Caos e Ritmo”.
Rui Torrinha
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